20 de abril de 2014

A Itaituba dos meus sonhos


A Itaituba dos meus sonhos não é dourada, como todos esperariam que eu dissesse. Que o dourado ficasse nos internos leitos, não por não admirar o luxo da cor da riqueza, mas por saber por quais todos os processos ele passou para ser extraído. Muita malária, muitos conflitos por terras riquíssimas, muita migração, muito filho abandonado na esperança de uma vida melhor, muita adolescente e até mesmo criança com promessas de soberania absoluta cozinhando pros homens dourados, no entanto, precisavam se deitar com eles.
A Itaituba dos meus sonhos é verde. Esse verde vem das suas matas e das suas águas e até mesmo do dinheiro que circularia se soubéssemos fazer um uso menos desastroso dos nossos recursos.
Eu sempre me pergunto: “Como pode uma cidade localizada bem no centro da Floresta Amazônica não ter um bosque, uma área verde na sua urbe?” Temos tanto espaço para isso quanto o temos tido para a especulação imobiliária. Cabe a quem a iniciativa de repensar o projeto urbanístico do município?
Estive na nossa capital há poucos dias e pude observar que o município dedica algumas áreas destinadas à valorização do microclima e de algumas espécies da biodiversidade. No entanto, são áreas muito pouco valorizadas pelos próprios munícipes.
Voltado à Itebê: quantas áreas de lazer saudáveis temos em nossa cidade? Em quais desses lugares podemos levar as crianças e deixa-las brincar à vontade? Em quantos desses lugares temos uma diversão educativa? Em quais deles podemos nos divertir sem ter que gastar uma fortuna com entradas, ingressos, comidas?
Gostaria de perguntar a você, caro leitor, se já ouviu falar em áreas de lazer públicas? E já ouviu falar que isso é obrigatório no Plano Diretor de todo município? E que também é obrigatório em todo projeto de assentamento urbano? Não?
Deve ser por isso que nos nossos novos bairros não temos nada disso. Nova Itaituba, Piracanã, Jardim América, entre outros. Mal consigo visualizar uma arvorezinha que seja.
É o que o futuro nos reserva. Tanto ouro foi extraído e não o vimos reluzir, pois, a cada dia que passa, só o vimos regredir e se afundar em seus tantos buracos. Se muitos dizem sentir vontade de ir embora de Itaituba – o que eu considero mais um desabafo do que um desafeto – é porque a paisagem da cidade não anda lá nada agradável.
Não é só a riqueza da cidade que nos faz amá-la. Aprendam, administradores! Certa vez Voltaire disse: “A beleza encanta aos olhos”, e eu digo que os olhos são a porta da alma.

Adriana Lima, geógrafa.

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